terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Arcadismo

Arcadismo

O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento que compreende a produção literária brasileira na segunda metade do século XVIII. O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).

Denota-se, logo de início, as referências à mitologia grega que perpassa o movimento.
Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o período, tais como a ascenção do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso e as ciências. Na América do Norte, ocorre a Independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para vários movimentos de independência ao longo de toda a América, como foi o caso do Brasil, que prsenciou inúmeras revoluções e inconfidências até a chegada da Família Real em 1808.
O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares às artes e ao ensino, aos hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organizaçõ econômica liderada pelo pensamento burguês.
Ao passo que os textos produzidos no período convencionado de Quinhentismo sofreram influência direta de Portugal e aqueles produzidos durante o Barroco, da cultura espanhola, os do Arcadismo, por sua vez, foram influenciados pela cultura francesa devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental).

Segundo o crítico Alfredo Bosi em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006) houve dois momentos do Arcadismo no Brasil:
a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza e da mitologia.
b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
Seus principais autores são Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e Santa Rita Durão. No Brasil, o ano convencionado para o início do Arcadismo é 1768, quando houve a publicação de Obras, do poeta Claudio Manoel da Costa.
Arcádia Ultramarina
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica (MG), influenciada pela Arcádia italiana (fundad em 1690) e cujos membros adotavam pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina. Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e romana.
Principais características

- inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uraguai (gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico);
- influência da filosofia francesa;
- mitologia pagã como elemento estético;
- o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril;
- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
- pastoralismo: poetas simples e humildes;
- bucolismo: busca pelos valores da natureza;
- nativismo: referências à terra e ao mundo natural;
- tom confessional;
- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
Termos em latim
O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo de vida simples e bucólico. Conheça algumas delas:

Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.
Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio;
Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos centros urbanos monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente.

Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.


O Arcadismo
No séc. XVIII, as formas artísticas do Barroco já se encontram desgastadas e decadentes. O fortalecimento político da burguesia e o aparecimento dos filósofos iluministas formam um novo quadro sócio político-cultural, que necessita de outras fórmulas de expressão. Combate-se a mentalidade religiosa criada pela Contra-reforma, nega-se a educação jesuíta praticadas nas escolas, valoriza-se o estudo científico e as atividades humanas, num verdadeiro retorno à cultura renascentista. A literatura que surge para combater a arte barroca e sua mentalidade religiosa e contraditória é o Neoclassicismo, que objetiva restaurar o equilíbrio por meio da razão.

Dentre as variedades do neoclassicismo, figurou o movimento arcádico. No final do séc. XVII, fixou residência em Roma a jovem ex-rainha Cristina da Suécia, que renunciara ao trono e ao luteranismo, convertendo-se ao catolicismo. Inteligente e culta, desde a Suécia habituara-se a cercar-se de sábios e artistas, para discussão e leitura de trabalhos literários. Em Roma, atraiu para essas reuniões a fina flor da inteligência local, formando um cenáculo intelectual que, após sua morte, se transformaria na Arcádia (1690). Nasceu , assim, com regulamentos e programas, a nova academia, composta de 16 membros. Tinha o objetivo de reconduzir à fonte da natureza, à simplicidade de sentimento e de estilo, a poesia e, em geral, a literatura, que, na opinião dos seus componentes, estavam desviadas pelos cattivo gusto, herança do seiscentismo. O nome de Arcádia era dado na Grécia antiga à região do Peloponeso, morada do deus Pan, e onde a tradição imaginava residirem todos os pastores com seus míticos e plácidos costumes, em contato com a natureza, onde residiam a beleza, pureza e espiritualidade. Procuravam adoçar a dureza do viver mercê de uma disposição para o canto e a dança, as canções de amor e as pugnas poéticas, caracterizadas pela espontaneidade e simplicidade. Segundo Toffanin, era a pátria da antiga poesia pastoral. Por isso, o nome foi transferido para a academia italiana, acrescentando-se ainda a particular ressonância obtida pelo romance pastoral de Jacopo Sannazareo (1458-1530), intitulado Arcádia (1504). Os membros da nova Arcádia chamavam-se “pastores”, cada um adotando um nome pastoril, grego ou latino, sendo o presidente eleito e designado “guardião geral”.

As reuniões eram realizadas em parques e jardins. No combate ao estilo empolado do Barroco decadente, com sua retórica artificial e suas sutilezas conceptistas, visava o arcadismo ou movimento arcádico retornar à simplicidade, equilíbrio, naturalidade e clareza dos modelos clássicos, restabelecendo a poética antiga, a forma clássica, o buono stile, a naturalezza Del dire, na linha da liberdade e simplicidade anacreôntica e pindárica, ou de conformidade com o petrarquismo quinhentista, cantando o amor, a natureza, a vida simples e bucólica. Do ponto de vista formal, a simples e idílica alma lírica setecentista encontrou no verso solto, nas odes e elegias o instrumento ideal. Criou assim um novo estilo individual e de época, englobando-se no rococó literário.

Além do seu caráter democrático, a Arcádia teve uma tendência supernacional. O movimento de reforma literária e lingüística irradiou-se em filiais pelos diversos reinos e cidades da Itália e em numerosos países estrangeiros, que se denominaram “colônias”.

Da Itália, o movimento arcádico passou a Portugal e ao Brasil. Empenhando que estava Portugal, no séc. XVIII, numa reação anti-castelhana, inclusive como reação paralela a restauração da independência, o movimento arcádico encontrou boa acolhida. As academias do século anterior foram-se transformando em corporações, do tipo ora arcádico, ora científico. De qualquer modo, no sentido da tradição clássica e também abrindo-se à influência francesa, que invadia o século.
Em Portugal, o arcadismo instalou-se com a Arcádia Lusitana (1756-1774), reunindo escritores de renome: Antônio Dinis da Cruz e Silva, Gomes de Carvalho, Manoel de Figueiredo, Cândido Lusitano, Domingos dos Reis Quita, Correia Garção, José Caetano de Mesquita. Houve, ainda, a nova Arcádia, no final do século XVIII, de que foram membros Bocage e José Agostinho de Macedo. Com o arcadismo desenvolve-se no Brasil a primeira produção literária adaptada à realidade  nacional. As obras começam a se afastar dos modelos portugueses ao descrever as paisagens locais e criticar a situação política do país. Surgem vários poetas em Vila Rica, atual Ouro Preto (MG) – capital cultural e centro de riqueza na época –, grande parte deles ligada à Inconfidência Mineira. Os árcades constituem a primeira geração de escritores brasileiros. A transição do barroco para o arcadismo no país dá-se em 1768, com a publicação do livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. Entre os árcades destacam-se, ainda, Tomás Antônio  Gonzaga, autor de Marília de Dirceu; Basílio da Gama (1741-1795), de O Uraguai; e Silva Alvarenga (1749-1814), de Glaura. Apesar do engajamento pessoal, a produção desses autores não está a  serviço da política. 






Características

Urbem (fuga da cidade): influenciados pelo poeta latino Horácio, os árcades fugere defendiam o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distantes dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompem os costumes do homens, que nasce naturalmente bom.
Aurea mediocritas (vida medíocre materialmente mas rica em realizações espirituais)
outro traço presente advindo da poesia horaciana é a idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e infeliz na cidade.

Ideas iluministas: como expressão artística da burguesia, o Arcadismo veicula também certos ideais políticos e ideológicos dessa classe, no caso, ideais do iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam o uso da razão, em contraposição à fé cristã, e combateram o absolutismo. Embora não sejam a preocupação central da maioria dos poetas árcades. Idéias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em apens alguns textos da época.
Convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais;não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa seu amor pr uma pastora e a convida para aproveitar a vida juntos à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionaliza. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. Além disso mantém-se o distanciamento entre os amantes, que já se verifica na poesia clássica. 
Conclusão

O Arcadismo em si, era formado por ideais renascentistas, da Antigüidade Clássica, pois o Barroco já havia ultrapassado os limites do que se considerava arte de qualidade.

Por emitir também princípios ideológicos iluministas, o arcadismo fez com que a burguesia crescesse e tomasse o poder sobre a nobreza.

Esse período foi marcado pela visão científica e pelo racionalismo, porque defendia uma literatura mais simples, objetiva, descritiva e espontânea, que se supõe à emoção, à religiosidade e ao exagero do Barroco.

Tal gênero predominou até o início do século XIX, quando surge o Romantismo.

Autores do Arcadismo
José Inácio de Alvarenga Peixoto (1743-1792)

Nome Árcade: Eureste Fenício

Autor de "Obras Poéticas", coletânea de poesias. Destaque para os poemas Bárbara Heliodora.

Frei José de Santa Rita Durão (1722-1784)

Autor do Poema Épico "Caramuru", que exalta o descobrimento e a conquista da Bahia por Diogo Álvares Correia.


Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814)

Nome Árcade: Alcindo Palmireno

Autor do Poema Heroico-Cômico "O Desertor das Letras", que fala sobre as reformas universitárias pombalinas.


José Basílio da Gama (1741-1795)

Nome Árcade: Termindo Sipílio

Autor do Poema Épico "O Uraguai", que narra a luta dos índios de Sete Povos da Missão no Uruguai.



Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)

Nome Árcade: Glauceste Satúrnio

Autor do Poema Épico "Vila Rica" (1837), que narra a história de Vila Rica, atual Ouro Preto.


Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810)

Nome Árcade: Dirceu

Autor dos Poemas Satíricos "Cartas Chilenas", que satiriza a arbitrariedade do Governador de Minas Gerais na época da Inconfidência. Também escreveu a Poesia Lírico-Amorosa "Marília de Dirceu".